Os lucros com a canção ‘oral’ irão para a ONG internacional AEGIS, beneficiando o fiorde Seyðisfjörður e combatendo a piscicultura na Islândia.

Com o aquecimento global e a acidificação dos oceanos, o salmão do Atlântico Norte está entrando em extinção. A chegada de algumas companhias norueguesas para exploração da fauna aquática da Islândia também não tem ajudado muito, já que a cidade de Seyðisfjörður (no leste do país) tem sofrido com os animais geneticamente modificados trazidos da Noruega por elas. Essa denúncia foi feita pela cantora islandesa Björk em entrevista para a DAZED no começo de novembro, onde ela contou que os animais estão deformados, “como algo que saiu dos Simpsons”. Os animais têm caçado o salmão selvagem islandês, além de trazer com eles uma infestação de piolho marinho, que está sendo combatido com altas doses de veneno e antibiótico.

O envolvimento de Björk com a causa começou no dia 05 de outubro, quando publicou um vídeo em seu canal no YouTube chamado apenas de help fight fish farming in iceland (ajude a combater a piscicultura na Islândia). No vídeo, ouvimos a voz de Björk e ROSALÍA acapella, cantando a frase is that the right thing to do? i just don’t know (essa é a coisa certa a se fazer? eu não sei) sob uma declaração de imprensa a qual a cantora denuncia o que está acontecendo em seu país, anunciando o single em parceria com a cantante espanhola e o que vai fazer com os fundos arrecadados.

Somente no dia 21 de novembro que pudemos finalmente escutar “oral”, junto a um videoclipe em que vemos as cantoras numa luta de espadas entre si num ambiente neo-espacial. A canção não menciona diretamente a luta em sua letra. Na verdade, é uma faixa animada e divertida, que traz uma dose de otimismo a essa causa na qual Björk, voz conhecida nas lutas sociais, acredita sair vencedora.

björk ft. rosalía : oral

björk

Talvez a principal razão pela ausência da menção direta na letra seja o fato de que oral foi na verdade escrita por Björk mais de 25 anos atrás, entre seus discos Homogenic (1997) e Vespertine (2001). A cantora conta que produziu essa faixa na época, mas que ela não se encaixava com sua fase até então, já que era muito mais pop do que o que ela vinha fazendo. A fita foi então arquivada e considerada perdida, já que Björk não conseguia se lembrar do nome que ela tinha dado. Até que, em março deste ano, a cantora conseguiu se lembrar vendo uma discussão na TV de “algum aristocrata americano que estava em um escândalo sexual e estava debatendo ‘foi oral ou não?’”. No mesmo período, ela recebeu a notícia do que estava acontecendo naquela região do seu país e decidiu lançar a música com o intuito de doar os lucros. Ela não queria regravar os vocais, pois os originais soavam nostálgicos para ela, então a solução foi chamar alguma cantora mais nova para fazer essa ponte entre o passado e o presente.

Entra em cena a sensação de Barcelona, ROSALÍA. Björk a conheceu no lançamento de seu primeiro disco, Los Ángeles, quando a cantora ainda fazia um flamenco mais tradicional. Como a canção tem uma batida mais próxima de um dancehall, Björk pensou que o reggaeton experimental da espanhola seria perfeito para esse complemento. De acordo com a islandesa, ROSALÍA “é uma cantora acústica tanto quanto uma cantora pop. Ela é capaz de preencher uma sala inteira com sua voz. É como um cello e uma guitarra, e ela consegue fazer as duas coisas”.

Você pode ouvir oral aqui na Qobuz e também pode doar diretamente à causa através deste link.