Uma pequena celebração das pessoas que moldaram a música como conhecemos hoje, do top 100 da Billboard ao experimentalismo.

É uma tarefa quase impossível, mas já tentou imaginar como o cenário musical no último século seria sem o sintetizador? Quantos gêneros, cenas, artistas e transformações em todo o mundo simplesmente não teriam existido?

Essa revolução sonora só aconteceu por causa de Wendy Carlos, que trabalhou o sintetizador analógico inventado por Bob Moog e transformou-o em um instrumento musical em 1968, ajudando a criar as bases de todos os gêneros eletrônicos que conhecemos hoje. Wendy sofreu com disforia de gênero desde a adolescência, mas só teve coragem de se assumir uma mulher trans em 1979, uma década depois de fazer seu nome como engenheira de som, produtora, musicista e levar três Grammys como compositora.

Esse apagamento acaba se estendendo ao longo de toda a história da música eletrônica, cujos pioneiros de vários de seus subgêneros são, invariavelmente, pessoas queer e LGBTQIAPN+ (e principalmente pessoas negras dentro desse recorte, importante notar). Sem se restringir apenas à disco music, comumente notada como um gênero musical capitaneado e amado por essa parcela da população, os gêneros eletrônicos foram se expandindo em junto com a comunidade.

A house music, por exemplo, teve suas origens em um clube gay de Chicago conhecido como The Warehouse entre o fim dos anos 70 e o início dos anos 80. Por lá, Ron Hardy e Larry Knuckles experimentavam com disco music e sintetizadores, criando um som futurista e que exaltava as vozes das divas do disco e do soul.

À medida que a house music foi se popularizando, outros gêneros surgiram a partir dela, como o techno, com raízes na cidade de Detroit, pelas mãos de Ken Collier, que era hetero mas colocava suas experimentações no mundo nas picapes da Heaven, frequentada principalmente pela população negra e LGBTQIAPN+ da cidade.

No Reino Unido, o punk tomava as ruas com uma estética que recusava o luxo, o glamour e tudo que fosse mais elaborado, desde as músicas de poucos acordes até as roupas rasgadas e compradas em brechós ou resgatadas do lixo. A cena de New Romantics surge também em resposta a isso, com uma proposta que se opunha à simplicidade do punk: todo mundo deve se embelezar, se enfeitar e brilhar o máximo possível. Com ela, criou-se a base de clubes e DJs que, posteriormente, criaram e impulsionaram o acid house para o mundo.

Garage, drum’n’bass, EDM, dubstep, entre tantos outros sub-gêneros eletrônicos e cenas que ganharam o mundo e se tornaram populares entre pessoas de todos os tipos, ainda encontram em seus membros queer as maiores inovações e experimentações; desde Sophie, que mudou a música pop para sempre, aos pequenos clubes onde, sem que a gente saiba, DJs dividem novas criações com suas comunidades locais.

Para quem fala inglês e quer saber mais, que tal um guia sobre a história queer da música eletrônica?