Ventura

Resenha do Álbum

“Ventura” (2003) é o terceiro disco do Los Hermanos - e talvez o mais importante da carreira do quarteto carioca. Foi aqui que a banda rompeu com a Abril Music e fechou com a BMG, sob a condição de poder fazer a sonoridade que quisesse, mesmo que isso significasse fugir da “fórmula de sucesso” de “Anna Júlia”, single que projetou o grupo nacionalmente em 1999 e chegou até a virar cântico de torcida de futebol. 

Com “Ventura”, o Los Hermanos queria achar seu próprio público e fugir do estigma de “banda de um hit só”. Durante as 15 faixas do álbum, vamos sendo apresentados a uma nova sonoridade que foge do ska e do hardcore apresentados vez ou outra nos primeiros registros da banda, “Ventura” é mais “soft” e mistura ritmos como a MPB e a bossa nova com o rock alternativo, algo que não era tão comum na música brasileira da época, mas que já vinha sendo trabalhado pela banda, porém agora com maior profundidade.

Em “Samba a Dois”, que abre o disco, o quarteto já surpreendeu ao apostar em um samba com um jeitinho indie em que o vocalista Marcelo Camelo, fã de carteirinha de Chico Buarque, canta: “nem se atreva a me dizer do que é feito o samba, nem se atreva a me dizer”. Logo em seguida, vem “O Vencedor”, música que sintetiza como poucas outras como é conhecida até hoje a “musicalidade” do Los Hermanos. A faixa é um pop rock munido de metais alegres cuja letra que tem um otimismo tímido fala sobre alguém que não se importa mais de não ser um vencedor. Seguem na mesma batida outras faixas que se destacam no álbum como “Cara Estranho”, “Último Romance” e “Conversa de Botas Batidas”.

Outro ponto alto desse disco são as letras que funcionam como crônicas do cotidiano da classe média. As composições, agora também escritas por Rodrigo Amarante, munidas de melodias chicletes, geraram uma série de “hinos” que consolidaram o sucesso da banda dali para diante. 

Você pode até não gostar dos Los Hermanos, mas é inegável que eles marcaram a música brasileira com esse álbum, que é cantado a plenos pulmões até hoje, e que serviu de inspiração para uma geração de músicos como Rubel, Cícero e tantos outros da nova MPB. © Nathalia Pádua  - Bananas/Qobuz