A trajetória de Arthur Verocai: o lançamento frustrado do seu primeiro disco, a redescoberta dele por rappers gringos e a atual consagração do maestro na música brasileira

Nos anos 1970, o arranjador, instrumentista e maestro Arthur Verocai era um nome reconhecido nos bastidores da música brasileira. O carioca já havia colaborado com artistas como Ivan Lins, Gal Costa, Erasmo Carlos e Jorge Ben, quando foi convencido pela cantora Célia a lançar o seu primeiro disco solo: Arthur Verocai, de 1972.

O disco homônimo do maestro deu o que falar na época do seu lançamento - e não foi de forma positiva. Considerado por muitos um álbum “muito experimental”, ele chegou a ser retirado das lojas devido a baixa procura, derretido e teve seu material reutilizado para que a gravadora Continental prensasse mais LPs dos Secos & Molhados, o sucesso comercial da época.

O álbum também prejudicou a vida pessoal e profissional de Verocai, que passou a receber cada vez menos convites de trabalhos como arranjador e instrumentista, já que os seus contratantes tinham medo que ele repetisse a fórmula experimental que apresentou no seu disco de estreia. Diante desse cenário, Verocai acabou migrando para a publicidade e começou a produzir jingles. E guardou no fundo do armário o álbum, que ele prometeu nunca mais ouvir.

Acontece que por volta dos anos 2000 o disco foi parar nas mãos de nomes do hip hop gringo e começou a ser sampleado mundo à fora, o que chamou a atenção do público e fez ele se tornar um disco cult. Hoje, no site Who Sampled, é possível encontrar mais de 60 samples desse disco. Dentre eles estão nomes do rap como MF Doom, Goldlink e Ludacris.

E o que faz o disco ser tão legal é justamente a “loucura” e a experimentação que fez ele ser rejeitado nos anos 1970. Verocai foi ousado e trouxe referências como Frank Zappa, Miles Davis e Wes Montgomery para dentro do seu trabalho. Misturando MPB com jazz, funk americano e música folk progressiva, ele criou um disco único e que tem como base mais de 20 instrumentos. Além disso, o álbum está cheio de referências escondidas à Ditadura Militar da época e uma série de easter eggs que dialogam com outras obras.

Diferente de outros artistas brasileiros que tiveram seus trabalhos redescobertos anos depois através de versões e samples usados por artistas nacionais, Verocai “lançou o seu disco 40 anos depois” pelas mãos de gringos. Nesse panorama, vamos contar um pouquinho mais dessa história, desde a redescoberta de Arthur Verocai (1972) até as colaborações atuais que o carioca veio a fazer com bandas como BADBADNOTGOOD e Hiatus Kaiyote, que acabaram virando fãs do artista.