Ney Matogrosso

Resenha do Álbum

Com o começo de uma nova década, Ney Matogrosso percebeu que era o momento de uma mudança de ares. Assinou com uma nova gravadora, a Ariola, e lançou seu primeiro (e único) disco homônimo em 1981. “Ney Matogrosso” foi um divisor de águas na carreira do cantor sul mato-grossense e foi o registro que sacramentou seu lugar na mente dos ouvintes brasileiros, principalmente devido ao sucesso da canção “Homem com H”. Se o seu disco anterior, "Sujeito Estranho", não obteve vendas tão expressivas, em seu novo lançamento, Ney decidiu convocar o que havia de melhor no pop brasileiro da época: Marco Mazzola na produção e Lincoln Olivetti e César Camargo Mariano nos arranjos.

O disco abre com a faixa “Deixa A Menina”, um samba-funk eletro pop composto por Chico Buarque, cuja letra, no melhor estilo do compositor, é um conselho a um homem aborrecido que está prestes a perder sua mulher. Logo em seguida temos um standard da música instrumental brasileira: “Espinha de Bacalhau”. Essa música aqui ganha uma letra de Fausto Nilo e é interpretada por Ney junto a Gal Costa e a Orquestra Tabajara, regida pelo compositor da música Severino Araújo. Viajante entrega a idade do “Ney Matogrosso” com o seu arranjo orquestral executado por sintetizadores, marca registrada de César Camargo. Vale mencionar ainda a canção “Vida, Vida”, que tornou-se abertura da novela global Jogo da Vida, lançada no mesmo ano.

Claro que a faixa mais memorável do LP é a já mencionada “Homem com H”. Composta por Antônio Barros e gravada inicialmente pelos 3 do Nordeste, a música foi primeiramente recusada pelo cantor quando proposta pela gravadora. Ney Matogrosso teria sido convencido por Gonzaguinha a gravar a canção, pois ele acreditava no poder irônico de sua interpretação. E acertou, já que pouco tempo depois o cantor tornaria-se uma piada pronta em programas de humor de fim de noite, servindo para fixar sua imagem no imaginário público. Ney Matogrosso deixa de ser um ídolo da classe média universitária e se torna uma figura pop.

“Ney Matogrosso” foi a primeira incursão do cantor no universo do synthpop que tanto seria explorado na música brasileira da década de 1980. Mas não se engane: o disco não é somente pop, pois ele explora choro, samba, balada, forró, psicodelia e até uma marchinha de carnaval, com a derradeira “Folia no Matagal”. Em seu álbum homônimo, Ney Matogrosso dá sequência aos seus repertórios ecléticos e lança seu registro mais bem sucedido enquanto funcionário da Ariola, resultando num disco de ouro para o cantor. © João Gabriel Fonseca  - Bananas/Qobuz