Di Melo

Resenha do Álbum

A vida de Roberto Di Melo é digna de roteiro cinematográfico (qualquer semelhança com o Sixto Rodriguez de Sugarman é de fato coincidência). Proveniente de uma geração de ouro da black music brasileira (ao lado de Tim Maia, Cassiano, Tony Tornado, Gerson King Combo, Hyldon e outros), o cantor e compositor lançou este disco em 1975 e depois sumiu por décadas. O próprio artista atribui essas dificuldades ao racismo estrutural da sociedade brasileira e a problemas no seu relacionamento com a gravadora do primeiro trabalho, a EMI-Odeon. Após lançar Di Melo (1975), o músico tentou retomar sua carreira mas passou completamente despercebido – nos anos 1990, um acidente grave levantou boatos de que ele teria morrido, o que rendeu o apelido “Imorrível”, título de seu segundo disco, de 2015. Mais recentemente, Di Melo trabalhou com uma geração jovem da MPB no álbum Podível e Impodível (2021), como Julia Mestre, Dora Morelenbaum e Josyara. O LP de 1975 foi “descoberto” por DJs e músicos estrangeiros nos anos 2000, impulso necessário para o ressurgimento de Di Melo também no cenário nacional. A história faz ainda menos sentido quando se ouve aquele primeiro trabalho: uma profusão exuberante de samba-rock com as melhores tintas de Jorge Ben, de souls funkeados propícios para pistas de dança e de baladas sentimentais infusionadas com arranjos de cordas e metais. Entre os músicos creditados no álbum estão nomes como Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte e Geraldo Vespar. Enquanto este disco existir, Di Melo será, de fato, “imorrível”. © Guilherme Sobota - Bananas/Qobuz