Brasil

Resenha do Álbum

É impressionante que um disco que reúna quatro dos maiores nomes da música popular brasileira – João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia – esteja à sombra na história da MPB e seja pouco comentado, mesmo em coberturas sobre as memórias desses e outros artistas. Fato é que o disco reuniu em 1981 um mestre aos seus discípulos, àquela altura todos já estandartes da cultura brasileira, em um disco recheado de interpretações saborosas de clássicos do passado. “Disse Alguém” (Haroldo Barbosa) é uma releitura antropofágica de um standard do jazz, ao ritmo de bossa, em que “in the mood” virou “Edmundo” e o “All of Me” do título se tornou “Disse Alguém”. O destaque do álbum, porém, são as odes à Bahia, terra natal dos quatro artistas. “No Tabuleiro da Baiana”, de Ary Barroso, mostra uma Bethânia doce e a serviço da música. É outra canção de Ary que abre o disco, “Aquarela do Brasil”, incontornável. “Milagre”, de Dorival Caymmi, aqui vem embalada na percussão jazzística da bossa nova, a essa altura dos acontecimentos mais uma lembrança boa do que um ritmo prodigioso em produção na MPB. “Cordeiro de Nanã” é um clássico dos Tincoãs em que os três – João, Gil e Caetano – dividem os vocais. Mas o ponto central do registro é certamente “Bahia com H”, canção carregada de amor pelo estado e ironicamente escrita por um paulista, o compositor Denis Brean, de história de vida curiosa. Lançada originalmente por Francisco Alves – o Rei da Voz – a música experimenta um encaixe perfeito entre o violão marcado de João Gilberto e as vozes inconfundíveis de Caetano e Gil, recheando de sotaque baiano a declaração de amor, e que ecoa até hoje: “Dá licença, de rezar pro senhor do Bonfim / Salve a santa Bahia imortal, Bahia dos sonhos mil / Eu fico contente da vida em saber que a Bahia é Brasil”. © Guilherme Sobota - Bananas/Qobuz