A despedida de Santa Rita de Sampa

Morreu nesta segunda (08), em São Paulo, a cantora Rita Lee, aos 75 anos. A artista, que se aposentou da música em 2012, foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021. Rita deixa três filhos, Beto, Antônio e João, além de seu marido e parceiro musical, Roberto de Carvalho.

Rita Lee Jones não ganhou a alcunha de “rainha do rock brasileiro” por acaso. A paulistana fez parte d’Os Mutantes, do movimento tropicalista e teve uma carreira solo de sucesso, tornando-se a quinta artista brasileira mais bem sucedida da história com 55 milhões de discos vendidos.

Rita, defensora dos frascos e comprimidos, iniciou sua vida musical ainda jovem, tomando aulas de piano, mas foi na adolescência que começou a compor suas primeiras canções e a fazer seus primeiros grupos de rock. Após passar por diversas bandas, juntou-se a Sérgio Dias e Arnaldo Baptista formando Os Mutantes.

Durante seus seis anos como Mutante, Rita foi cantora, compositora, flautista, percussionista, esposa e um troféu no meio da bugiganga. Junto à banda, fez parte da Tropicália, participando do emblemático Tropicália ou Panis et Circenses, e gravou 5 discos, emprestando sua voz a alguns dos principais sucessos do grupo como A Minha Menina e Ando Meio Desligado. Com o fim do casamento com Arnaldo, o tecladista a expulsou do grupo alegando diferenças criativas.

Mas Rita Lee foi passear, e encontrou o grupo Tutti-Frutti no meio do caminho. Depois de gravarem um tumultuado primeiro disco, Atrás do Porto Tem Uma Cidade, o sucesso veio no ano seguinte. Após reformulações na banda, nasceu o Fruto Proibido, com os hits Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow (em parceria com Paulo Coelho) e Ovelha Negra.

Os anos seguintes foram um corre-corre-corre danado. A cantora conheceu seu marido Roberto de Carvalho, foi presa enquanto grávida, fez turnê com Gilberto Gil, teve três filhos e lançou o último disco de sua fase rock, Babilônia, encerrando sua parceria com a banda Tutti Frutti. Começou uma bem sucedida carreira com Roberto em 1979, lançando discos como Rita Lee, que inclui os sucessos Mania de Você, Chega Mais e Doce Vampiro, Rita Lee, com canções como Lança Perfume, e Baila Comigo, além de Saúde, com a faixa-título e Banho de Espuma.

Nos anos 1990, Rita Lee buscou se reinventar. Separou-se profissionalmente de Roberto, começando a popular turnê Rita Lee em Bossa N’ Roll com Alexandre Fontanetti e teve até mesmo um (caótico) programa de televisão na MTV Brasil, TVleezão. Nem a separação profissional e nem o programa duraram muito, já que em 1995 a cantora e o guitarrista já estavam no palco abrindo o show do Rolling Stones e um incêndio no estúdio pôs fim a carreira de VJ de Rita. Antes da virada do século, a cantora lançou em 1998 seu emblemático Acústico MTV, ganhando disco de platina.

Antes de anunciar sua aposentadoria em 2012 devido à sua fragilidade física, Rita Lee lançou mais 3 discos de sucesso: Rita Lee 3001, que inclui Erva Venenosa e Pagu (junto a Zélia Duncan), Balacobaco, com o mega hit Amor e Sexo e Tudo Vira Bosta e Reza, com destaque a faixa-título.

Rita Lee Jones de Carvalho fez de tudo um pouco. Esteve sempre à frente de seu tempo, explorou a psicodelia dos anos 60, deu alguns dos primeiros passos da música disco no Brasil e falou em música eletrônica quando ninguém sabia o que era isso. Foi um ícone feminista e deu voz a toda uma geração de mulheres que via aquela figura distinta na televisão. Em seus últimos anos, levava uma vida sossegada no interior de São Paulo com seu marido, suas plantas e seus animais, e descansou “cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, como disse sua família em comunicado para as redes sociais.