Um dos maiores expoentes da música independente brasileira lançou seu sétimo disco solo em 2023 e contou para a Qobuz sobre seus processos criativos.

Aos 48 anos de idade, Otávio Francisco de Paula Neto, mais conhecido como Tatá Aeroplano, já fez de tudo um pouco em seus mais de 20 anos de carreira. Dos seus primeiros grupos até o seu último lançamento, Boate Invisível, o cantautor de Bragança Paulista sempre apostou na coletividade e nas tendências contemporâneas para se manter relevante e ativo criativamente. Em entrevista exclusiva à Qobuz, Tatá fala de sua trajetória, processos e do rótulo de “artista independente”.

As primeiras canções de Tatá foram escritas quando ele tinha entre 6 e 7 anos e ele diz que desde então, sempre soube que ia trabalhar com isso. A primeira oportunidade de mostrar sua musicalidade veio na adolescência. Tatá conta que “o meu amigo Fabiano me chamou para uma apresentação no nosso colégio de freiras. Ele iria cantar uma canção religiosa e quando desse a deixa, eu ia subir no palco e começar a cantar Ramones, Pet Sematary. Foi uma catarse”. Depois disso começou a aprender violão com um amigo e montou seu primeiro grupo, Gorpiava, em 1997. Os grupos Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, que somaram 6 lançamentos no decorrer de 10 anos, vieram algum tempo depois.

Seu recém lançado álbum, Boate Invisível, dá seguimento a uma prática comum na vida de Tatá: a criação coletiva. “Eu assino com meu nome, mas na real esse é um disco de banda”, diz Tatá. “Em discos como o Step Psicodélico eu reunia uma série de canções, entrava em estúdio e arranjava de maneira coletiva com a banda. Já no Não Dá Pra Agarrar, disco lançado ano passado, o Dustan [Gallas, parceiro de Tatá] propôs que toda a criação fosse feita em estúdio com a banda, e deu super certo”. Sobre esses processos criativos, Tatá diz que gosta “de conversar e escutar música. Tenho uma paixão imensa por conhecer coisas novas e isso me move demais”.

O Boate Invisível nasceu a partir de 3 etapas. Primeiro, o músico reservou 4 dias no estúdio com a banda, onde desenvolveram as bases do que se tornaria o disco a partir de improvisos livres. Os músicos então levaram esses registros para casa e aos poucos o álbum começou a tomar forma de maneira espontânea, antes de ser finalizado novamente em estúdio. Tatá cita o nascimento da faixa “Alquimia Sensual”: “Dustan havia sugerido o nome numa van voltando de um show em Campinas, e, de repente, Malu [Maria, outra parceira do cantor] já começou a cantar uma melodia sobre essa letra, que ficou”. Ele continua, “Eu, até então, havia participado de poucos processos com esse grau de coletividade, e foi tudo ao mesmo tempo agora”.

Apesar de hoje ser conhecido como uma espécie de “herói do underground”, devido a sua longeva carreira, Tatá lembra bem de seu começo como artista, no começo dos anos 2000, quando batia na porta de todas as gravadoras que existiam em São Paulo. “Por outro lado, foi nessa época que começou uma maior abertura para o independente. Começamos a fazer shows com a Jumbo Elektro e conseguimos fazer um disco só com o dinheiro dos cachês”.

Tatá Aeroplano é um reflexo da realidade de muitos artistas independentes, que precisam fazer de tudo um pouco. “Faço shows do meu repertório com banda, faço solo voz e violão, discoteco, a gente dá um jeito de viabilizar a música”. Apesar disso, o compositor bragantino tem uma leitura um pouco mais positiva do mercado independente atual, como uma cena com espaço para todo mundo, mas que, ao mesmo tempo, pode ser confusa e disputada para quem está começando agora.

Tatá fala que têm uma certa facilidade para trabalhar suas redes sociais. “Eu vejo como parte do meu trabalho, vou lá no TikTok e ponho vídeos cantando, dançando ou dando uma pirada, tento levar isso com mais tranquilidade. Se vou fazer um show, como faço para divulgar? Antigamente eu colocava cartazes pela cidade, mas hoje isso mudou, também faz parte da responsabilidade do artista fazer essa divulgação”. E o que ele antevê para o futuro? “Em 40 anos, ainda acho que vai ter possibilidade para todo mundo, basta entender onde está seu público”.