Arlo Parks é uma artista de contrastes. Em sua música, por trás da aparente simplicidade, há arranjos bastante precisos e ricos. Classificada como soul por muitos observadores quando ela entrou no centro das atenções em 2019, sua estética, na verdade, se inspira muito mais no pop inglês da década de 1995-2005. Seus vocais são suaves, mas cheios de uma raiva inexplicável e penetrante. Tudo isso fez o sucesso de seu álbum de estreia, Collapsed In Sunbeams (2021), liderado pelo fascinante single Eugene. Foi um álbum que lhe rendeu o cobiçado Mercury Prize no Reino Unido e a estabeleceu como uma artista simpaticamente examinada, com algo fundamentalmente unificador, que rompe gêneros e é positivo.
Seu segundo disco, My Soft Machine, evolui dentro do mesmo paradigma de seu antecessor, ao mesmo tempo em que busca ostensivamente impulsionar a cantora londrina para uma nova dimensão. No comando está o produtor Paul Epworth (que já trabalhou com Adele, Cee Lo Green, Lana Del Rey, U2...), que dá a esse álbum uma forma bem-vinda de audácia pop ao sobrepor camadas de elementos muitas vezes inesperados.
A primeira faixa Bruiseless apresenta seus famosos vocais soltos, enquanto Ghost e o single Blades têm uma vibração eletrônica discreta, mas habilmente medida, faixas que ilustram perfeitamente o casulo sônico que Arlo Parks vem construindo desde o início de sua jovem carreira. Agora, ainda sem ter completado seus 23 anos, Parks soma dois grandes álbuns que são um deleite de ouvir.