Todos os Olhos

Resenha do Álbum

Todos os Olhos (1973) é uma peça emblemática na cultura pop brasileira por causa de sua capa instigante e polêmica, que fez tão bem o seu trabalho de atrair atenção para o disco que acabou sendo mais falada que as músicas nele. Ainda assim, as dez faixas são prova da importância de Tom Zé na música de vanguarda feita no Brasil, bem como um testemunho crítico do momento vivido pelo país na época, com o regime militar sob comando de Médici.

Produzido por Milton José, Todos os Olhos pode ser considerado tanto um disco de música popular quanto um disco de música torta, já que traz gêneros como samba, baião, bossa, e tantos outros, mas subverte o formato que conhecemos de canção. Os tempos e compassos são esquisitos, fora do esperado, os arranjos de corda, por vezes, são tortos e não acompanham Tom Zé como o esperado.

Complexo de Épico, uma das músicas mais interessantes do álbum, expressa todo o aborrecimento de Tom Zé com o que, segundo ele, estava errado na música brasileira: pretensão, elitismo, exclusão. Debochando e questionando ao mesmo tempo, Tom Zé canta “Ai, meu Deus do céu, vai ser sério assim no inferno!”.
Ainda assim, a excentricidade contida no álbum  não dificulta a experiência do ouvinte. É um álbum com camadas e camadas (de sons e de significados, metáforas, etc.), mas cuja audição não exige demais, com momentos de respiro enquanto Tom Zé intercala entre deboche, acidez e poesia. © Izabella Delfiol  - Bananas/Qobuz