Secos & Molhados

Resenha do Álbum

Clássico instantâneo, Secos & Molhados foi lançado em 1973 pelo grupo de mesmo nome, formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad. O trio (acompanhado por bons músicos de apoio tanto em estúdio quanto ao vivo) trilhou com maestria o caminho pavimentado pelo tropicalismo anos antes e, misturando rock, baião, jazz, mpb, folk, entre outros estilos musicais, redefiniu o cenário nacional da música pop.
O disco não era uma aposta da gravadora Warner e seu sucesso surpreendeu a todos depois de uma aparição do grupo na estreia do Fantástico, programa dominical da Rede Globo. Logo todas as casas brasileiras que possuíssem um toca-discos também tinham uma cópia de Secos & Molhados. Nas rádios, O Vira e Sangue Latino tocavam sem parar. A projeção foi tão grande que turnês internacionais foram marcadas às pressas. 
Era ao vivo, inclusive, que o álbum ganhava vida: as canções eram acompanhadas de figurinos ousados e maquiagens andróginas, além das performances avassaladoras de Ney Matogrosso, que dançava de maneira nunca antes vista pelo grande público, uma afronta à censura por si só. Parte das letras são, na verdade, poesias musicadas de autores como Vinicius de Moraes, Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira. Ainda assim, as músicas de autoria de João Ricardo revelam carga própria de poesia e lirismo que as colocam em pé de igualdade com as faixas restantes.
Apesar do Brasil dos anos 70 ainda viver sob ditadura, o Secos & Molhados tornou-se um fenômeno tão grande que não pôde ser detido pelo governo militar, levando subversão e inovação estética e sonora para as grandes massas. As flautas, guitarras e violões usados pelo trio junto da voz peculiar de Ney Matogrosso em Secos & Molhados são, até hoje, inéditos na música brasileira e deram o tom de como seria o pop e o rock produzidos no Brasil a partir de seu lançamento. © Izabela Delfiol Bananas/Qobuz