Erasmo Carlos e Os Tremendões

Resenha do Álbum

Quando o programa Jovem Guarda saiu do ar em 1968, seus três apresentadores, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, já estavam em fase de transição em suas carreiras. Roberto iria lançar O Inimitável no mesmo ano com influências do soul e funk, Wanderléa entraria num breve hiato e retornaria em 1972 com seu Maravilhosa, influenciada pelo rock e pelo samba, e Erasmo preparava seu próximo lançamento: Erasmo Carlos e Os Tremendões. O disco, gravado em 1969 e lançado no ano seguinte, marca a transição do Gigante Gentil em direção ao rock e à MPB, com incursões à Tropicália e ao samba-rock.

Das 12 faixas, 3 já haviam sido lançadas um ano antes. Uma delas foi o hit Sentado à Beira do Caminho, uma canção que mescla a estética da Jovem Guarda (o órgão de Lafayette, letras juvenis) com uma atmosfera psicodélica um pouco mais madura do que a que marcou discos como A Pescaria, de 1965. Essa não é a única canção do disco que ainda bebe da fonte desse movimento musical, Estou Dez Anos Atrasado e Vou Ficar Nú Pra Chamar Sua Atenção também evocam a energia rockeira inconsequente e romântica que marcava a carreira do carioca até então.

Outros pontos altos do fonograma incluem o samba rock Coqueiro Verde, composto pela dupla Roberto e Erasmo em homenagem a Narinha, então namorada do Tremendão. Saudosismo marca a primeira vez que uma canção tropicalista (autoria de Caetano Veloso) é gravada por um membro da Jovem Guarda, e o arranjo de cordas de Chiquinho de Moraes faz questão de mesclar bem esses dois universos com claras influências de Rogério Duprat. Aquarela do Brasil, clássico de Ary Barroso, foi gravada por Erasmo para compor a trilha do filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa em que estrela junto aos seus ex-colegas de Jovem Guarda.

Erasmo Carlos e Os Tremendões é um disco fundamental para se entender um pouco da história de Erasmo e do estado da música brasileira no começo da década de 1970. A Tropicália e a Jovem Guarda haviam recentemente se dissolvido e o AI-5, decreto baixado pela ditadura militar brasileira que permitia a censura de criações artísticas, ainda muito afetava o cancioneiro no país. Esse é o álbum que marca uma nova fase na carreira do Tremendão, que se seguiria com discos como Carlos, Erasmo (1971) e Sonhos e Memórias 1941-1972 (1972). © João Gabriel Fonseca  - Bananas/Qobuz