Construção

Resenha do Álbum

Após se auto-exilar na Itália por pouco mais de um ano, Chico Buarque volta ao Brasil sentindo-se mais maduro e com muito a dizer. Assim nasce Construção, álbum lançado em 1971, no auge da repressão militar liderada pelo então presidente Médici. Pouco antes do lançamento do LP, Chico havia lançado um compacto simples com a canção Apesar de Você, que trata-se de uma crítica à ditadura disfarçada de intriga entre amantes. A faixa foi aprovada inicialmente mas acabou sendo censurada meses depois de seu lançamento, depois de já ter vendido mais 100 mil cópias pelo Brasil.
Construção é inegavelmente uma das obras mais importantes da música brasileira tanto por sua musicalidade quanto pelo lirismo de Chico Buarque, que se mostrava afiado como nunca. A faixa-título ganha ares de ópera com a fusão dos arranjos orquestrais do maestro tropicalista Rogério Duprat e da letra que narra o último dia de vida de um trabalhador civil e serve como crítica ao modelo de alienação do trabalho e ao capitalismo. Tornou-se marco em nossa cultura e na carreira do cantor e compositor e, para alguns, se encaixa nos gêneros mais progressivos e psicodélicos dada a sua duração de quase sete minutos.
Cinco das faixas do disco são composições exclusivas de Chico e outras quatro são fruto de parceria dele com Vinicius de Moraes e Tom Jobim, o que contribuiu para consolidá-lo como um dos mais importantes artistas da música brasileira apesar de sua pouca idade (Construção foi lançado quando Chico tinha 27 anos). 
Construção conta com arranjos de Magro (MPB4) e é um álbum de samba que retrata com crueza incomparável a realidade brasileira naquele momento, tanto que rendeu a Chico Buarque 140.000 vendas em um mês e constante vigilância do regime militar até o fim da ditadura. © Izabela Delfiol Bananas/Qobuz